GPP – Presentation

In August 2008 each artist returned its concluding proposal, gathering this way a considerable corpus of rubbish bags.
This project renounces to an artistic line that offers solutions or results exclusively controlled by the artist. The attempt with this kind of action is to supply possibilities of construction of meaning. The action of the different participants on the open work brings new and distinct perspectives. The main purpose is to capture the singularity of every subjective interpretation within the discursive multiplicity that is developed around the same conundrum, finally bestowing it with a common place of expression: the aesthetic-performing object.

In this project, only the device was provided, the conceptual challenge, the invitation to reflection…; then, this device was activated by the diverse artists. The presence of the work could be felt already in its full auratic strength during the whole time that preceded its own materialization – without being able to control beforehand what the corpus final would be. This was a conscious bet, a long shot with a degree of the unexpected that corroborated the enigmatic character of the aesthetic experience.

The interpretation of the proposal by each artist was free and personal, within the inherent conditions of the project. Despite the maximum effort to not impose any rule relative to the formal, aesthetic or ethic codes, a challenge and a need of spacial synthesis was imposed because of the reduced dimensions of the rubbish bags provided. Some justified exceptions that break slightly the scheme have been verified but the majority of artists have operated within the referred parameters.
The challenge to optimize the reduced space as well as the selection of contents proposed for this project established an indirect analogy with the real challenge and the real need to promote a conscious and selective social attitude along with the problems of spatial limits derived and demanded by the rubbish production and destruction system in the contemporary city.
The Garbage Pin Project team was constituted with international character: Portugal, Spain, Italy, United Kingdom, Sweden, Germany, Belgium, Luxemburg, Austria, Yugoslavia, Rumania, Argentina, Chile, Colombia, Singapore, E.U.A and Japan.

The majority of artists belong to the environment of Contemporary Jewellery joined by artists from many other areas of work: Painting, Sculpture, Illustration, Photography, Performance, Installation, Video, Design, Fashion, Cinema, Theatre, Music and Literature. The selection criteria have been processed in an organic and natural way following the autonomous broadcast dynamic that the own project generated from the very beginning.
This plurality was a wish to promote the contact between Contemporary Jewellery – commonly relegated to the register of the decorative arts – as an intervention device, and other expressive vehicles or artistic languages.

The concept of Contemporary Jewellery is wide and is expressed sometimes in antagonistic ways through its different manifestations. Within those, two extremes become evident: on one hand the typology of multiple adornment object managed by
functional notions of design, on the other, the typology of the unique piece related to the subjective poesis of the so called author jewellery.
Nevertheless, under the same label of Contemporary Jewellery, one can distinguish another platform that nourishes itself from the previous ones adding an intervention and/or social critic role, able to trigger life mechanisms and to create occasional parallel realities that configure them as a productive platform of shared sense.

Analysing the jewel through the notion of place, we can be conscious of the potential inherent to its characteristics, independently of any subjacent typology.
Besides the jewel being itself a place – such as a painting, a sculpture or an installation –, it presents the particularity of inhabiting a mobile place: the body.
The body is its place of support; its place of communication that, at the same time, carries it to different places. In this sense, the jewel can be understood as a place of dialectic between the intimate sphere and the public sphere since whoever carries it comes from his private space showing himself with the jewel in the public space. This mobility confers the jewel with a privileged character as social communicator that, on one hand, can be presented as a symbol of belonging or identification with a determined group or social class and, on the other hand, can be presented as an expression device generator of critical speech in the public sphere.
This jewel’s potential reconverted in a sociability space and/ or place of discussion – able to establish dynamic dialogs, of creating and recreating public opinion –, was the followed path in the present project.

In this way, it is understood that the jewel could operate through transversal platforms that – without loosing its original referent – pushes the common borders of the Contemporary Jewellery concept, touching present dynamics in the theoretic
frame and at the practices of the designated Current Art.

Garbage Pin Project is materialised in installation format gathering a corpus of 440 elements and will be shown internationally as of April 2009 in an itinerant exhibition.

Garbage Pin Project (Portuguese)
Por Ana Cardim
Garbage Pin é uma jóia dispositivo que nasce de um conceito marcadamente urbano de apropriação e reinterpretação de um objecto de uso quotidiano: o balde do lixo.
Sendo uma das tipologias de equipamento urbano que existe em maior número na trama cosmopolita, o balde do lixo pertence sem dúvida ao imaginário colectivo, presente no dia a dia de qualquer cidadão como reflexo de uma cultura vinculada ao
acelerado e crescente consumismo, como é a nossa.

A peça apresenta-se como um pin (4,5 x 2 x 3 cm) com uma estrutura metálica
onde se adapta um pequeno saco de plástico transparente e é complementada por
um kit de recargas que permite substituir os sacos cada vez que a jóia é utilizada,
guardando assim os diversos resultados obtidos. A prata como material nobre e
valioso, recurso natural e reciclável, é aqui confrontada com o plástico: material
ordinário e barato, de origem sintética, responsável por uma grande parte da
destruição do nosso eco-sistema.

A jóia apela à reflexão sobre o actual paradigma social urbano que confronta noções
como valor e desperdício – ambos conceitos relativos e subjectivos…
Normalmente jogamos para o lixo o que não queremos, tudo o que consideramos
desperdício nas nossas vidas. Assim, com Garbage Pin pode-se seguir um
procedimento similar ao que estabelecemos normalmente com os baldes do lixo
comuns. No entanto, a peça pode também ser entendida como um relicário, onde
cada um pode guardar pequenas memórias simbólicas do seu dia a dia, pequenos
nadas que recordam grandes momentos. Por outro lado, pode-se utilizar o Garbage
Pin como meio de catarsis libertadora do nosso lixo interior; ou, ainda, vivê-la e
interpreta-la como veículo crítico denunciando problemáticas da sociedade urbana
actual.

Em suma, não existe um guia de procedimentos ou instruções predeterminados para
a utilização do Garbage Pin, cada indivíduo selecciona o seu lixo pessoal e é
responsável pelo mesmo. Neste sentido os sacos são transparentes, propiciando
uma auto-denúncia crítica que revele o que ordinariamente se oculta.
A peça nunca termina de adquirir novos sentidos de acordo com as experiências e intervenções de quem a utiliza, o que implica que o seu valor simbólico seja confirmado sobretudo através do seu valor de uso.
Garbage Pin Project começou em Janeiro de 2008, como processo virtual através da
comunicação, estabelecida maioritariamente por e-mail, com os 90 artistas que nele
intervieram. A todos eles se enviou o Kit Garbage Pin com o qual puderam realizar
uma proposta comum.
A proposta consistiu em sugerir que utilizassem a jóia durante cinco dias e que
seleccionassem, criassem ou recriassem os conteúdos colocados dentro de cinco
sacos de plástico de acordo com a perspectiva e reflexões geradas pelo projecto:
‘valor VS desperdício’ na sociedade urbana actual.

Em Agosto de 2008 cada artista devolveu a sua proposta concluída reunindo-se,
desta maneira, um corpus considerável de sacos do lixo.
O projecto renuncia a uma linha artística que oferece soluções ou resultados controlados exclusivamente pelo artista. Tenta-se com este tipo de acção proporcionar possibilidades de construção de sentido. A acção dos diferentes intervenientes sobre a obra em aberto medra-a com novas e dispares perspectivas.
Trata-se sobretudo de captar a singularidade de cada subjectividade interpretativa
dentro da multiplicidade discursiva que se desenvolve em torno a uma mesma
problemática, conferindo-lhe, no final, um lugar de expressão comum: o objecto estético-performativo.
Neste projecto proporcionou-se apenas o dispositivo, o repto conceptual, o convite à reflexão…; depois, este dispositivo foi activado pelos diversos artistas. A presença da obra fazia-se já sentir em plena força aurática durante todo o tempo que precedeu à sua própria materialização – sem que se pudesse controlar previamente qual seria o corpus final. Foi a consequência de uma aposta consciente, um tiro no escuro no qual o grau de imprevisto corroborou o carácter enigmático da experiência estética.

A interpretação da proposta por parte de cada artista foi livre e pessoal, dentro das
condicionantes inerentes ao projecto. Apesar de se ter tentado ao máximo não impor
nenhuma regra relativa a códigos formais, estéticos ou éticos, impôs-se um desafio
e uma necessidade de síntese espacial devido às reduzidas dimensões dos sacos
de lixo disponibilizados. Verificaram-se algumas excepções justificadas que rompem
ligeiramente o esquema; porém, a grande maioria dos artistas operou o seu discurso
dentro dos referidos parâmetros.

O desafio à optimização do espaço reduzido bem como à selecção de conteúdos propostos por este projecto estabelece uma analogia indirecta com o real desafio e a real necessidade de promover uma atitude social consciente e selectiva, de acordo
com os problemas de limite espacial provocados e exigidos pelo sistema de produção e destruição de lixo na cidade contemporânea.

A equipa Garbage Pin Project constituiu-se com carácter internacional: Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido, Holanda, Suécia, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Áustria, Jugoslávia, Roménia, Argentina, Chile, Colômbia, Singapura, E.U.A. e
Japão.
A maioria são artistas do âmbito da Joalharia Contemporânea, aos quais se juntam artistas provenientes de muitas outras áreas de trabalho: Pintura, Escultura,
Ilustração, Fotografia, Performance, Instalação, Vídeo, Design, Moda, Cinema,
Teatro, Música e Literatura. Os critérios de selecção processaram-se de forma
orgânica e natural, seguindo a dinâmica autónoma de divulgação que o próprio
projecto gerou desde o seu início.

Esta pluralidade foi um desejo logrado de promover o contacto entre Joalharia
Contemporânea – comummente relegada ao registo das artes decorativas – como
dispositivo de intervenção e, outros veículos expressivos ou linguagens artísticos.
O conceito de Joalharia Contemporânea é amplo e expressa-se de modo por vezes
antagónico através de diversas manifestações. Entre elas evidenciam-se dois
extremos: por um lado a tipologia do objecto de adorno múltiplo regido por noções
funcionais de design, por outro, a tipologia da peça única vinculada à poesis
subjectiva da denominada joalharia de autor.
No entanto, ainda sob a mesma etiqueta de Joalharia Contemporânea, distingue-se
uma outra plataforma que se nutre das anteriores, acrescentando-lhes porém, um
papel de intervenção e/ou crítica social, capaz de activar mecanismos vivenciais e
de criar realidades paralelas ocasionais que se configurem como plataforma
produtiva de sentido partilhado.

Analisando a jóia à luz da noção de lugar, podemos tomar consciência do potencial
inerente às suas características, independentemente de qualquer tipologia
subjacente.
Não obstante a jóia ser ela própria um lugar – tal como uma pintura, uma escultura,
ou uma instalação –, ela apresenta a particularidade de habitar um lugar móvel: o
corpo.
O corpo é o seu lugar de suporte, é o seu lugar de comunicação que, por sua vez, a
transporta para distintos lugares. Neste sentido, a jóia pode ser entendida como
lugar de dialéctica entre a esfera íntima e a esfera pública já que quem a transporta
vem do seu espaço privado expondo-se com a jóia no espaço público. Esta
mobilidade confere à jóia um carácter privilegiado de comunicador social que, por
um lado, se pode exprimir como símbolo de pertença ou de identificação com um
determinado grupo ou classe social e, por outro, pode apresentar-se como
dispositivo de expressão gerador de discurso critico na esfera pública.
Esta potencialidade da jóia reconvertida em espaço de sociabilidade e/ou lugar de
discussão – capaz de estabelecer diálogos dinâmicos, de criar e recriar opinião
pública –, foi a via seguida no presente projecto.

Desta forma, entende-se que a jóia possa operar através de plataformas
transversais que – sem perder o seu referente original – ultrapassem as fronteiras
comuns do conceito de Joalharia Contemporânea, tocando dinâmicas vigentes no
quadro teórico e nas prácticas da designada Arte Actual.

Garbage Pin Project materializa-se em forma de instalação reunindo um corpus de
440 elementos e será exposta em itinerância internacional a partir de Abril de 2009.